As crianças pequenas costumam achar que antes de nascerem nada existia; os pais nunca tinham sido pequenos, os eventos não se tinham sucedido. Depois passa, quando compreendem que não são o todo em si mas que fazem parte de uma cadeia de eventos com uma ordem cronológica inegável. No entanto, e apesar desta relativização que vem com a idade e com as experiências que se vão adquirindo, há sempre pessoas que mantêm um pensamento mais ou menos egoísta que creio estar associado a uma visão simplista do mundo (leia-se do todo).
Cá vamos: outro dia, em conversa com um newcomer na empresa onde trabalho, ele contou-me como, tendo mudado para um T1, se tivera de desfazer dos seus dois cães (questionável, questionável). Posto isto, um fora rapidamente adoptado por uma ricaça (era um aristocão, lol) e o outro, o rafeiro, ficava sem pretendentes a adoptantes. A solução encontrada pelo meu novo colega foi então entregar o cão num canil onde seria abatido mediante o pagamento de €70. Alto e pára o baile, apareceu um amigo que ficou com o cão. Porreiro.
Pensei eu: porquê matar um cão? Mas essa hipótese coloca-se? Sim, eu fui educada a aceitar os cães/gatos/whatever como membros legítimos da família e por isso nunca equacionei estas possibilidades. Sempre achei que o mais terrível era abandonar um cão. Agora não, agora acho que é mandar abater. Isso e largar no meio da estrada para ser atropelado e morrer à mesma. Não defendo o abandono. Não se abandona o que faz parte de nós, não se abandona um irmão, não se abandona uma perna, não se abandona um cão. There.
Quanto a abater, bem isso é "vamos brincar a fingir que somos deus". Decidir sobre a vida alheia is WRONG!!
Mas eu acho que sei porque é que há pessoas que o fazem. Não ultrapassaram a fase infantil em que se é o centro de tudo. "Nem sequer vou dar a hipótese ao meu cão de orientar um novo dono, só há um dono possível para ele - eu - e sem mim na equação a vida dele não faz sentido". Só pode ser isso. Porque o facto é que se o cão for abandonado tem uma hipótese, remota, distante, quase imperceptível (mas que está lá) de captar a atenção de alguém que o leve para casa. Quantos animais não são entregues em canis municipais ( = 80% sure to be killed) só porque algum dono considerou que o ciclo de companheirismo dono/cão chegara ao seu fim (ainda que, dare I say, prematuramente)?
Por isso, ainda que ser abandonado seja uma tragédia emocional para qualquer um de nós seres vivos, fuck you traitor, thou shall not kill me!!
Isto tudo para dizer que anda por aí muito/a prirralho/a em idade adulta que não sabe nada de nada, que só tem sentimentos centrados no seu próprio umbigo e que as únicas vezes em que deve chorar é quando sente pena de si mesmo/a. Well fuck those bitches too.
Posto isto, penso rapidamente na questão do aborto. Parece que vai haver novo referendo (1 - não concordo com referendos; 2 - caso neste ganhe o "não", vão continuar a insistir em promover referendos até acertarem no "sim"? Lolada.)
Quando eu era jovem e burra, achava que sim, que era justo cada um decidir sobre o seu corpo e que gaja que era gaja não tinha de se deixar mandar por ninguém. Entretanto vi um aborto filmado na TV (courtesy of some pro-life movement's ad) e mudei imediatamente de opinião. Yadda yadda yadda, feito antes das 12 semanas, whatever. Eu só sei que vi um girino em forma de humano a contorcer-se enquanto era espetado até à morte para que a bardajona que poderia ter sido sua mãe pudesse ter direito à escolha. Olha puta, tivesses escolhido fechar as pernas, já não tinhas este "contratempo".
Compreendi, com o tempo, que o que eu defendia era que as mulheres tivessem direito sobre o seu corpo, alienando o direito dos bebés (ou pré-bebés, call them what you like, continuam a ser animais vivos) à própria vida.
Quem é civilizado considera normalmente que os que não podem defender os seus direitos continuam, apesar disso, a ter direitos. Certo? Animais e deficientes mentais anyone?
Desta feita, lá está, é outra vez a cena do princípio e do fim. "Eu é que decido, eu é que mando!" Pois pois, mas há um tempo e um lugar para cada coisa, e a decisão de se ter ou não filhos também tem o seu tempo. É antes de se engravidar.
E em jeito de disclaimer, tenho a dizer que toda a gente que conheço que sei que abortou, fê-lo não por viver em condições de pobreza miserável, não por ter sido violado, mas porque na altura não dava jeito um filho. E esse tipo de motivos, meus amigos, dá direito a flechada divina bem no meio do focinho.
Como infelizmente não acredito em deus nem na justiça karmica nem em nenhuma merda que faça sentido, acredito sinceramente que muitos destes atentados ao grande esquema das coisas ficarão impunes. Ou não.
Props,
barbie
5 de dez. de 2006
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