31 de ago. de 2008

Criação de animais para farmacêuticas na Azambuja

"Criação de animais para farmacêuticas" - "Azambuja vai exportar cobaias"
Azambuja vai exportar cobaias
(In "Correio da Manhã", 28 de Agosto de 2008)

A Azambuja vai criar e exportar cobaias para centros de investigação em Portugal e no estrangeiro. O Biotério Central, um projecto das fundações Champalimaud e Calouste Gulbenkian e da Universidade de Lisboa, envolve um investimento de 36 milhões de euros e a criação de cerca de cem postos de trabalho.


O projecto prevê, não só a criação de animais para a indústria farmacêutica, mas também o desenvolvimento de um programa de investigação, nomeadamente em doenças cerebrais e oncológicas.


Preparado para ter uma capacidade de cerca de 25 mil gaiolas, o Biotério deverá fornecer animais e estirpes para a investigação médica nacional, nomeadamente para universidades e farmacêuticas, mas também para laboratórios europeus.


A expectativa é a de que a instalação deste centro estimulará a criação de outras empresas na região, nomeadamente fábricas de rações.


O Biotério é um dos mais de cem projectos previstos no plano de investimentos para o Oeste, uma promessa do primeiro-ministro à região na sequência da alteração da localização da Ota para Alcochete. As negociações com os municípios foram lideradas pelo ministro das Obras Públicas, Mário Lino, e, nesse sentido, não é de estranhar que tenham sido aprovados investimentos na área das ligações rodoviárias e nos transportes.


Este plano de investimentos, de mais de dois mil milhões de euros, deverá ser analisado hoje em Conselho de Ministros.


São usados cem milhões de animais por ano em testes laboratoriais. Na maioria, ratos, coelhos e macacos.


Raquel Oliveira / P.H.G.


VIVEMOS NUM PAÍS DE MERDA QUE ACABA DE SE TORNAR MAIS MERDOSO

15 de ago. de 2008

Tradição e antropocentrismo - parte 2

Creio pois que está clara a minha opinião sobre quem é do "deixa andar": são uns bananas. Ou pior - são estúpidos!

Diz o ditado que o pior cego é o que não quer ver. Pois claro. Não nos podemos esquecer que a grande maioria da humanidade é básica ao nível do pensamento. Não que as pessoas sejam por natureza pouco inteligentes - às tantas até são -, creio antes que fazem por não ver as coisas.

Quando confrontada com a minha posição sobre o veganismo ou sobre as touradas, ouço por vezes coisas bem rídiculas. Falo do veganismo porque, acreditem ou não, há sempre um palhaço a cada refeição que faço fora do seio familiar que faz comentários sobre o que eu como (ou antes, não como). Comentários assaz inteligentes do género "mas tem de se tirar o leite às vacas, caso contrário ficam com infecções". Normalmente opto por não responder.

Como é lógico, eu sei que a maior parte dos europeus bebe leite e come carne e se de cada vez que vejo alguém comer carne fosse tentar impingir o meu ideal de veganismo, não teria tempo para mais nada. Mas às vezes solto a minha veia pedagógica e explico: na verdade, as vacas estão sempre a dar leite porque os donos as estão constantemente a emprenhar para elas produzirem leite e vitelos. E sim, depois tem de se tirar o leite mecanicamente porque os vitelos foram todos para o matadouro e já não estão ao pé da mãe para mamar.
Ou seja, para que um gajo possa beber leite, há uma vaca que fica com as mamas cheias de pus por estar sempre ligada às máquinas e há um bebé que é tirado à mãe e comido.

Esta visão é dantesca. E é também verdadeira. E por ser tão horrível, é rapidamente posta de parte pelos meus interlocutores como sendo fantasiosa. O que é que eu esperava, que eles deixassem de beber o seu rico leitinho? E de comer o seu bolinho e a sua bolachinha, que tanta falta fazem à dieta de qualquer animal?

Eu sou realista. Eu sei que de acordo com a nossa tradição cultural judaico-cristã a gula é um grande pecado. Mas essa mesma tradição (essa e outras, infelizmente) impregnou os macaquinhos sem pêlo da ideia de que são os macaquinhos mais espertos lá do bairro. E que os outros são seus escravos.

Cá vai uma citação de um texto que foi escrito por um macaquinho sem pêlo para justificar aquilo em que todos os macaquinhos sem pêlo acreditam:

"E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos, e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que se arrasta sobre a terra."
Genesis 1:26


Creio que é daqui que derivam aquelas ideias estabelecidas de que há certos animais que foram feitos para comer, outros feitos para nos fazer companhia e outros para lutar. Porque todos têm a sua missão na vida, sempre relacionada com servir a humanidade. A humanidade é que pelo meio já se deve ter esquecido de qual é a sua missão. Se calhar eu é que estou errada e a missão da humanidade é mesmo estar no topo de uma pirâmide a viver às custas do trabalho escravo e da exploração dos outros animais.

A suivre!

10 de ago. de 2008

Tradição e antropocentrismo - parte 1

Ao longo dos anos, tenho-me cruzado com pessoas, muitas vezes mais novas do que eu, que me dizem que, não gostando de ver touradas, aceitam que estas sejam realizadas e, por um ou outro motivo, lhes reconhecem o direito à existência. E sim, já privei com quem gostasse mesmo de touradas, com quem frequentasse a Festa do Colete Encarnado, malta que acha que aquilo é mesmo divertido, tradicional e merecedor de continuidade.

A estes últimos, nunca pude chamar "amigos". A ética é, para mim, um factor-chave para determinar se alguém entra na minha esfera de amizade. Se não tivermos a ética em comum, o que é que vamos ter? Os valores de cada um são, para mim, muito importantes. E como em tudo, há hierarquias e há valores que, a meu ver, são irrelevantes. Mas há outros que são fundamentais. Talvez o mais importante seja o respeito.

Tenho posições muito vincadas sobre alguns assuntos, posições que são sustentadas basicamente naquilo que entendo como sendo o respeito. No outro extremo da escala, está o egoísmo. O respeito e o egoísmo não se opõem directamente, mas enquanto que o primeiro é, para mim, um valor quase dogmático, o segundo é a marca dos seres abjectos, daqueles que não me merecem respeito.

Acredito que merecemos o tratamento que damos aos outros, quanto a isto não tenho dúvidas.

Por vezes, e porque as pessoas têm uma mentalidade muito fechada e, logo, cheia de preconceitos, surpreendo-as com algumas das minhas afirmações. Considero altamente insultuoso quando alguém me diz "B., como podes ser contra a despenalização do aborto? Tu és tão liberal!" Ou como já ouvi "Esperava outra mentalidade de uma pessoa com o teu aspecto." Só porque uma pessoa se veste de forma absolutamente informal, e eventualmente tenha alguns piercings ou tatuagens, não quer dizer que tenha uma placa na testa a dizer "Voto BE seja em que assunto for" (nada contra o BE, estou apenas a reforçar um estereótipo).

Vejamos, cada um de nós foi dotado de um cérebro que, a priori, nos possibilita fazer escolhas. E eu faço-as baseadas na minha escala de valores. Só para que ninguém pense que sou uma cabra retrógrada, deixo já claro que apoio o casamento e a adopção por pessoas do mesmo sexo (não digo "gay" porque estar com alguém do mesmo sexo não é o mesmo que ser gay, senão onde entram os bissexuais?). E sim, também acho que mais valia liberalizar as drogas leves e criminalizar o consumo de álcool. Digo isto porque nunca ouvi falar de alguém com uma grande moca chegar a casa e espancar a mulher e já bêbedos é aos montes...

Serviu este pequeno interlúdio para esclarecer que tenho opiniões, sim, e que estas são baseadas em escolhas pensadas e não em ideias pre-fabricadas adquiridas por contágio com grupo A ou B.

Falava eu de escolhas.

Muitos me dizem "É verdade, nunca gostei de ver touradas na TV, mas se os gajos gostam, deixá-los fazê-las, quem não gosta que não assista".

Nisso estamos de acordo, quem não gosta não é obrigado a assistir (a não ser quando está a fazer zapping; nessas alturas sinto-me uma avozinha que inadvertidamente se depara com uma cena de enrabanço ao fazer browsing às nove da noite - é chocante e desnecessário).

Podemos, então, não ver touradas. Mas não sei porquê, saber que um animal herbívoro de grande porte (e podia ser outro qualquer) está a ser achincalhado publicamente num resquício do circo romano e não fazer nada sobre o assunto parece-me um pouco como ir na rua e ver um tipo espancar o filho e não dizer nada. Ou ver um gajo dar um pontapé num cão e seguirmos o nosso caminho. Parece-me coisa de quem não tem espinha.

Fui criada por paizinhos ateus que, não me tendo transmitido nenhum dos tradicionais valores católicos de ajudar os que precisam, sempre foram pessoas de intervir ante uma injustiça flagrante. Foi uma das coisas que assimilei. Se não for eu a ajudar quem precisa, corro o risco de ninguém o fazer. E somos ou não somos todos agentes do bem? Temos ou não a obrigação de auxiliar os mais fracos?

A indiferença, meus amigos, faz de nós os prevaricadores.

"Devemos sempre tomar partido. A neutralidade ajuda o opressor, nunca a vítima. O silêncio encoraja o torturador, nunca o torturado."
Elie Weisel, sobrevivente do Holocausto, 1986


Vivemos em sociedade, não em pequenas tribos. Temos leis comuns a milhares de pessoas. Por isso, se acharmos que algo é injusto, incorrecto e que martiriza os indefesos, cabe-nos a nós, aos que têm uma voz que eventualmente poderá ser ouvida, erguermo-nos e dizer "Eu não concordo, não está correcto, não podem continuar a fazê-lo."

Calma, que este texto vai por partes.

9 de ago. de 2008

Tradição e antropocentrismo - parte 0

"E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos, e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que se arrasta sobre a terra."
Genesis 1:26

"Devemos sempre tomar partido. A neutralidade ajuda o opressor, nunca a vítima. O silêncio encoraja o torturador, nunca o torturado."
Elie Weisel, sobrevivente do Holocausto, 1986

"Often, the less there is to justify a traditional custom, the harder it is to get rid of it."
Mark Twain, escritor americano

"Todas as pessoas devem esforçar-se por seguir o que está certo e não o que está estabelecido."
Aristóteles, filósofo grego
 

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