24 de out. de 2007

Onde está a caridade?

Dia 27 deste mês, a Abraço, conhecida associação ligada à luta contra a sida, vai promover uma tourada em Évora.
O pensamento que a maior parte de nós terá será a de que a Abraço tem dois pesos e duas medidas; promove o bem estar e a solidariedade para com as pessoas infectadas com um vírus mas está-se perfeitamente cagando para o bem estar dos outros animais. Pior, não só se está cagando como participa activamente na promoção do sofrimento destes últimos.
É por estas e por outras que a Abraço, da minha parte, nunca levou nada. Nem uma frase de louvor pelo trabalho que faz (ou não) nem eventualmente qualquer tipo de donativo.
Mas não é só a Abraço. Se pensarmos no assunto, veremos que várias são as "obras de caridade" e afins que mais não fazem do que conseguir dinheiro à custa da miséria alheia.
É frequente associações que actuam em prol de doenças como a trissomia 21 ou outras beneficiarem de parte das vendas dos ingressos das touradas. Se por um lado, fica servido o propósito dos "taurinos" em passarem por boas pessoas, por outro isso permite-nos ficar a conhecer a verdadeira natureza das pessoas que conduzem algumas destas associações.
Mas vai daí que as touradas não são o único problema. Regularmente há peditórios pela "luta" (o que quer que isso signifique) contra o cancro, contra as doenças do coração, etc.
Se por "luta" se pretende dizer investimento na educação das pessoas e promoção da qualidade de vida dos doentes, sou a primeira a apoiar uma causa nobre.
Mas normalmente, "lutar" contra o que quer que seja significa dar apoio à investigação laboratorial, o que na prática quer dizer que do outro lado da trincheira há roedores, primatas, aves e peixes (apenas para referir os mais comuns) que são infectados, mutilados, dissecados, abertos (enquanto ainda estão vivos), electrocutados, cegados, engravidados, abortados, enfim, torturados em nome da ciência. Ciência essa que, agindo contra todas as leis naturais, prolonga a vida do que já devia estar morto, faz nascer bebés em quem já não vai ter idade para os ver ir para a faculdade e mais uma data de desvios à ordem natural que apenas prejudicam o planeta e, num plano mais pequeno, a vida de cada um de nós.
A ciência, infelizmente, não é amiga da ética. E sorte a minha em não ter espírito religioso ou crente pois acredito que nesse caso os constantes atentados a toda a criação divina me atormentariam ainda mais.
Não me entendam mal, sou misantropa, é certo, mas acho que, à partida, todos têm direito à vida. Mas é só à partida. Porque aqueles que constroem a sua vida à custa de vampirizar a vida dos outros, fosse eu a grande demiurga, tinham um triste destino.

1 comentários:

Rachelet disse...

Subscrevo. A natureza existe (ou seria melhor dizer «sobrevive») do modo como é há milénios e há motivos biológicos pelos quais uns vivem como vivem e outros morrem como morrem. Creio que se chama a Lei do Mais Forte. Quase prefiro a religião, que ao menos ajudava as pessoas a lidarem com a perda virando-se para um Destino ulterior. Agora esta religião da ciência parece-me que já há muito que não traz coisas intrinsecamente boas, por muito louváveis que fossem as intenções originais.

 

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