26 de dez. de 2007

The progression of solitude...

Espero que este post seja catártico.
No dia 4 de Outubro deste ano mudei-me de Massamá, ghetto in the making na linha de Sintra, para o Porto, oásis civilizacional do país. Assim pensava eu. Não sei, talvez seja.
Depois de ter saído da faculdade, onde tirei uma licenciatura para o desemprego, fui party girl durante alguns meses até arranjar o meu 1º emprego, secretária freak de uma escola de cinema. Not bad, pensei eu. Pouco depois o meu pai morreu e a minha irmã e eu tivémos de passar a sustentar a 100% as nossas jovens existências. A minha cabeça deu um bocado o tilt nessa altura e deixei o emprego; já estava um bocado cansada de ir todos os dias de Massamá para Belém de transportes e além disso o meu chefe escravizava-me um bocadinho.

Nessa altura percebi que nunca mais ia ter o backup financeiro e emocional necessário para poder fazer escolhas do tipo "vou tirar outro curso mais profissionalizante" ou "vou fazer uma viagenzinha nem que seja a Londres". Nunca tinha feito essas coisas e percebi que, a não ser que enriquecesse subitamente, nunca mais as iria poder fazer. Talvez eu seja mesmo neurótica, mas assumi para mim o papel de formiguinha laboriosa que trabalha sem cansar. Fui para um call-centre onde era muito bem tratada e até valorizada, onde me dava muito bem com os colegas, era de facto divertido estar lá.
Veio uma vaga de despedimentos, e antes que fosse a minha vez, fugi para outro call-centre. Conheci lá algumas pessas que sem dúvida habitam o meu coração e que nunca de lá vão sair (*** para a Suzana com z). Às vezes acho que as pessoas não imaginam o quanto gosto delas. E eu também não lhes vou dizer, não quero parecer pegajosa ou doida dos cornos.

Após um choque de personalidades com a chefia, desempreguei-me e decidi abrir um negócio. Mas os 4000 e tal euros do subsídio de desemprego não chegavam sequer para formalizar uma empresa e fui investigando todas as outras possibilidades, crédito, micro-crédito, etc. Não aconteceu. E eu aceitei que ia ter de voltar ao mesmo de sempre.

No 3º call-centre onde trabalhei encontrei o melhor ambiente de trabalho, no que toca à relação entre colegas, que já presenciei. Fiz um upgrade para a área administrativa e achei que estava no céu. Não atendia telefones, fazia as minhas tarefas pela ordem que eu mesma estipulava e podia ouvir música enquanto trabalhava. Além disso falava muito com os chefes e com os colegas, era saudável. Tendo em conta que o que ganhava nem chegava aos 600€ e eu estava feliz, as minhas expectativas não são muito altas, pois não?
Se eu levar em consideração que a maior parte dos meus conhecidos da minha idade ganha melhor, trabalha menos e faz sempre umas férias glamourosas, o meu trabalhito atrás de uma secretária era bem modesto. E era tudo o que eu queria.

Foi mais ou menos há um ano que, no dia em que entrei de férias para vir ao Porto a um concerto, o meu namorado me liga a dizer que vou ser despedida quando voltar. Contenção orçamental. Em Fevereiro já havia um anúncio publicado para preencheram a minha vaga. A altura de apresentar as contas à administração já tinha passado. E eu voltara ao atendimento.

Na minha querida linha de suporte ao Kanguru - porque não dizê-lo? - conheci alguns dos chefes e colegas mais fixes que já tive. Havia muita interacção e isso é muito importante para mim. Faz-nos sentir aceites e respeitados tal como somos.

Mas claro, por esta altura a querida tele_barbie já tinha acumulado perto de 4 anos a dizer "Bom dia, fala B****** F********, em que posso ser útil?" e estava a entrar em parafuso. Eu já não queria ser útil a ninguém, eu não sou a porra de um objecto utilitário. Eu estava farta de dizer "compreendo", "concerteza" e todas essas merdas quando estamos a tentar ser corteses com pessoas que não nos são nada. E despedi-me. A minha casa estava finalmente vendida - adeus amarras geográficas - e eu vim morar para o Porto, para uma casa alugada bem no centro, perto de tudo.

Estando no Porto e atendendo ao facto que aqui só há emprego para vendedores, fui novamente (!!) parar a um call-centre. Desta vez escolhi fazer um part-time, na tentativa de não fritar tão depressa. Tenho um horário fixe, das 9h às 14h e pagam cerca de 500€, o que é bom para um part-time. E cobre as minhas parcas despesas. Sim, porque eu entretanto já só conheço o modo de vida espartano e acho que já nem sei o que faria se após pagar renda, contas e comida ainda me sobrasse dinheiro. Não sei mesmo.

No entanto, há algo que não está bem. O meu namorado, aquela pessoa que me tem acompanhado desde o início e que eu amo mais que tudo, chega a casa do trabalho às 23h30. Eu espero mais de 8 horas para ter companhia. Porque a verdade é que deixei os meus amigos - e aqueles que não eram bem bem amigos mas com quem falava diariamente e de quem sinto falta - lá longe, em Lisboa. Não tenho amigos aqui. Não falo com ninguém do trabalho. Acho que tem a ver com o facto de, no Porto, as pessoas reservarem a simpatia para o comércio. Não me deparo com nenhuma alma minimamente extrovertida, não tenho ninguém com quem falar. É patético, eu sei, mas dá-me cabo da cabeça. E do coração. Quando finalmente o meu namorado chega a casa, à noite, falo com ele um bocadinho e vou-me deitar. E como estou cheia de sono e os meus dias são todos iguais, não há grande coisa para conversar.

Será que devo sair à noite para conhecer pessoas? Não devo descobrir tão cedo. Trabalho às 9h sábados e domingos e também no Natal e também na passagem de ano. E o meu físico já não tem 20 anos...

Enfim... espero ler este post daqui a uns meses e sentir um grande distanciamento dele. Mas por agora... digamos que voltei ao estado em que nos breaks vou para a casa de banho para poder estar triste à vontade.

5 comentários:

Rachelet disse...

Porque és bicho do mato! Eu estou a walking distance, o pónei idem aspas. Sempre podemos hook up para ver os velhos no marquês. Estou de férias até dia 7. Dispõe. You got my number.

Ah, e ai de ti que não venhas à janta. Somos poucos, mas meiguinhos.

Moon* disse...

Temos saudades vossas... deixem as tripas e as francesinhas e voltem :)

Beijocas

Tânia e MAV

P.S. - Gostei de te ler.

bárbara disse...

Sem esquecermos as fêveras, está claro...
Ainda bem que deixaste um post, Tânia, assim já posso localizar o teu blog, eheheh.

Anônimo disse...

Olá B.!
É urgente mudar de cenário! Não gosto de 'te ler' assim :(
Primeira oportunidade e apanhar um comboiozucho, dar uma volta à Galiza, Santiago de Compostela, por exemplo. Há tantas cenas fixes aí para cima! Aproveitem para o melhor!Ou mesmo virem cá abaixo, mudar de ares! Eu faço-vos um petisco todo catita, eh eh eh!
Um abraço,
Renata

Anônimo disse...

Isto só tem uma solução.
Voltem please.

Pode parecer mentira, mas apesar de viver rodeada de pessoas a maioria dos dias, há debates que sem o rudolfo e sem a bábara para mim não fazem sentido, bha não aprendo nada de interessante desde que se foram embora.

Sendo assim, que a nossa sanidade mental depende do vosso regresso, espero não ter de aguardar por junta médica a confirmar o diagnóstico senão tou bem lixada.

Ou no mínimo dos mínimos encaixem lá essas folgas depressa e passam cá dois dias pa matar saudades.

BTW, ninguém ficava tanto tempo em Lisboa sem conhecer gente, mesmo que não quisesses, agora não sei se isso é bom ou mau lol

Beijos e força nisso, eu sei que queres estar aí, as ligações que cá deixaste também não apareceram assim. Vais ver que daqui a uns tempos já nem tens tempo pa nos vir falar a net.

BEIJOOOOOOOOOOOOOOOOS

 

Blog Template by YummyLolly.com