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O meu carro, apesar de ter mau aspecto (digamos que alguma ferrugem, má pintura e uma pancada que levou quando estava estacionado, durante a calada da noite), é um bom carro. E eu não sou má condutora. Às vezes peco por excesso de confiança, é certo, mas ao volante do meu carro sinto-me a guiar um muscle car, vejo todos aqueles mariquinhas na estrada a guiar carrinhos com direção assistida e ar condicionado e paneleirices afins e lá vou eu, a usar a minha força macha para fazer manobras, a sentir cada niquinho da estrada por baixo do veículo e a absorver todo o ruído e vento que entra pela janela. Pimpin'!
No entanto, e apesar de ser uma pessoa até bastante calma no que toca ao trânsito, à condução por zonas desconhecidas etc, sou completamente imprestável a estacionar paralelamente ao passeio. OK, admito, é única falha, dare I say, que após tanto tempo com carta, ainda não domino. E não domino exactamente porque evito fazê-lo. Se não estiver um co-piloto ao meu lado a dizer "marcha atrás, começa a virar, endireita, só mais um bocado" eu simplesmente conduzo até ao próximo descampado e deixo lá ficar o carro.
Há três noites atrás, após um dia passado a trabalhar, a passear cães e a passear o Atos, o nosso amado cachorrão de 25 kgs, vim a conduzir cansada e com sono. E, com excesso de confiança, pensei "é mesmo aqui à porta de casa, de certeza que consigo meter aqui o carro". Mas não.
O pobre Twingo que estava atrás levou uma panada enquanto eu avançava, e uma segunda enquanto tentava saír, ao aperceber-me que tinha batido. E ainda mais duas pancadas só para o caminho.
O dono, que conversava com um amigo junto ao Twingo (!) nem se aperceberia, não fora o amigo chamar-lhe a atenção. Após ter pedido mil desculpas verifiquei que a porta do passageiro do meu calhambeque estava, como dizer,... toda fdd! O carro do fulano tinha um risquinho, que pelos vistos sairá do meu bolso :/ Como ele até foi um tipo porreiro, ainda me tentou reconfortar com frases do género "vá lá, isto pode acontecer a qualquer um". Mas era tarde, o meu rosto já estava coberto com o manto negro da vergonha (que ainda não retirei).
Ontem, enquanto pensava na vida e no dinheiro que já voava do bolso, a minha cachorra, encharcada pela chuva, entrou numa casa cuja porta stava entreaberta, e desatou a sacudir o pêlo, deitando água para todo o lado. Quando entrei para a retirar, já a pedir desculpa pelo incidente, vejo que quem segura a porta é o mesmo fulano cujo carro ataquei.
Oh the shame!
Por segundos, creio ter visto no olhar dele um terror profundo, a expressão desesperada de quem reconhece alguém que veio dos infernos para destruir tudo aquilo que tem como sagrado na sua vida.
Será essa a minha missão?