28 de mai. de 2009

Animais no reino de Marrocos

Na semana passada fiz uma pequena viagem de quatro dias a Marrocos.
Sempre tive vontade de viajar até países com culturas radicalmente diferentes da portuguesa e Marrocos é barato e... diferente :)

Aqui no Norte os lisboetas e restantes habitantes do Sul de Portugal são apelidados de "mouros" e agora percebo que não é totalmente descabido. As sardinhas na brasa, os azulejos, as oliveiras, e muitas das palavras que usamos são completamente herdadas dos árabes que cá estiveram. Se não tivessem saído, suponho que a Península Ibérica fosse hoje muito semelhante ao Norte de África. Achei tudo isso muito interessante e, nesse aspecto, gostei da viagem e recomendo.

Mas há coisas para as quais não estava preparada. Sim, eu sabia previamente que iria encontrar encantadores de serpentes e macacos pela trela a entreter turistagem. Sabia que havia muitos cavalos a puxar charretes.

Já agora, uma coisa que não entendo é porque é que os bifes e os frogues, tão avançados em questões do bem-estar do animais nos seus países de origem, quando vão para o estrangeiro, nomeadamente para países que sem dívida considerarão mais primitivos, adoram envolver-se nos nossos costumes mais básicos e primitivos. Como é o caso das touradas em Portugal e Espanha, a largada de touros em Pamplona, os macaquinhos em Marrocos. Tenho a certeza que nos seus países não admitiriam que fossem feitas algumas das coisas que cá acham "very typical". Enfim... Irrita-me cada vez que vou a Sintra e vejo cavalos tugas a carregar os traseiros preguiçosos dos turistas que alugam as charretes. Soo xenófoba? A sério que não sou.

Voltando à minha pequena incursão por terras africanas...

A primeira coisa em que reparámos ao chegar ao nosso destino, Marraquexe, foi a quantidade de burros e mulas que são usados para carregar coisas. Falo de animais magríssimos (mesmo) a puxar carroças com pesos absurdos, muitas vezes cargas gigantes de cimento.

Ao virar a primeira esquina, vejo um pobre burro a levar um açoite brutal com um pau, ao ponto de dar um salto de dor. Ao olhar para as suas ancas, vi as feridas (uma ainda aberta) causadas pelos açoites. Horrível.

Ao longo dos dias percebi também que os gatos e cães da cidade não eram de facto alimentados por ninguém porque as pessoas simplesmente os ignoravam. Nunca vi gataria tão escanzelada.

Notem, de um ponto de vista meramente ecológico, é bom que assim seja. Todos nós gostamos de gatinhos, mas alimentá-los por sistema não é o melhor para eles. Perdem o medo às pessoas e perdem o hábito de caçar. Reproduzem-se consecutivamente na confiança de que as ninhadas vindouras serão alimentadas pela velhinha simpática do costume. É como dar de comer aos pombos.
Mas daí a ninguém olhar quando passa um animal ferido, ninguém tratar do gato acabado de ser atropelado que, coberto de sangue e a coxear, entra numa casa em obras para morrer, isso já me chocou mais.

Olhando à volta, compreendi que num lugar onde as pessoas trabalham 24 horas por dia para sobreviver em espaços minúsculos e onde a burguesia gulosa ainda não se instalou, não haverá grande disposição para tratar os animais como sendo "de estimação". E os únicos com os quais se interage são aqueles que servem para trabalhar. Vidas de escravatura, digo-vos...

À noite, quando ouvi pela primeira vez com total clareza as chamadas para a oração vindas de vários minaretes em simultâneo, questionei-se se aquelas vozes humanas que se erguiam nos céus não seriam mais um reflexo de uma sociedade antropocêntrica que só reconhece no ser humano a centelha da divindade... Já não existe paganismo no mundo?

[foto: galinhas num telhado em Marraquexe]

8 comentários:

Rodolfo disse...

ainda existe algum, não te preocupes

bárbara disse...

E felizmente parece que há também países mais civilizados.

Indi(a)screet disse...

Namaste Barbara,
Sim, vc acertou o ultimo What is isso? do Indiagestao e por isso mesmo NAO publiquei, pois tem MUITA gente que vai na cola, e resolvi que isto nao eh correto.
So na proxima semana eh que vou deixar sua resposta entrar no IndiaG pois nao quero ninguem copiando a resposta!!! so as respostas erradas eh que entram agora para confundir os leitores hahahahahaha :)
Om Shanti

bárbara disse...

Aaaaah! ;)

Pony disse...

Barb, tás tão certa. Quando estive em Marrocos e na Tunísia lembro-me de vir mais do que impressionado, agoniado com o que vi fazerem aos animais. Chicotadas em burros, pontapés em cães, gataria a ser esfolada e pássaros bebés a serem pisados. Para não falar dos carneiros que eles degolam à beira da estrada. E que mais me chocou foi a minha incapacidade de fazer o que quer que fosse...

bárbara disse...

Gatos esfolados? Carneiros degolados? Eeeeeeeeeeeek! Isso foi em Marrocos ou na Tunísia? :(

Anônimo disse...

Olá!
Cheguei aqui através do blog da Goriji.
Sim, realmente as parecenças lá do sul e o norte de África são muitas!!
Quanto aos gatos esfolados...bem, eu não vi nada disso na Tunísia, talvez tenha tido sorte!
;-)

romara disse...

ai ai ai..

to indo para marrocos e ja pensando nisso tudo que vc disse acima.
me preparando psicologicamente para ver tudo isso.
ja estou sofrendo antes de ver...

 

Blog Template by YummyLolly.com