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Sem qualquer tipo de estudo científico que sustente esta opinião mas com evidências gritantes que não posso ignorar, tenho a dizer o seguinte: o Porto é a cidade mais no armário que conheço.
Tendo passado a minha infância e pré-adolescência no Porto, não posso dizer que nessa altura estivesse muito atenta ao que o meu gaydar detectava. Na verdade, acho que nem sequer tinha ainda desenvolvido tal coisa.
Tendo vivido os anos seguintes na capital, habituei-me a ver um sadio convívio entre homo e heterossexuais (como odeio estas duas palavras...) assim como entre brancos e negros, tugas e zucas, etc e tal.
E atenção, não falo dos ghettos óbvios que são os bairros alfacinhas onde abundam os discos gays e que anualmente são incluídos nas marchas do orgulho. Falo da cidade toda, onde tanto na rua como no emprego ninguém emitia julgamentos e muito menos auto-repressão. É claro que ocasionalmente há um(a) idiota mas isso é ocasionalmente.
Ao regressar ao Porto, comecei a reunir suspeitas de não encontrar o mesmo cenário.
A primeira pista deu-se nos Classificados do JN, quando procurava uma casa para alugar.
Como sou uma pessoa que se interessa por saber onde param as modas, via frequentemente os anúncios de convívio. E o que é que abunda nesses anúncios? Travestis. Preferencialmente activos e com - passo a citar - "mega-dotação". Choque. Horror. Algum medo.
Onde estão os anúncios de gajas? E os de gajos jovens, bonitos e musculados? Quase nada.
Nessa altura percebi: o mercado da prostituição portuense estava pejado de homens que preferiam pagar para ir para a cama com uma mulher "apetrechada" do que com um homem a sério.
Será que ao irem com homens transmorfados de mulheres estes clientes acham que são menos gays? Que macabro.
Não é por mais nada, mas quando as próprias pessoas não estão bem com aquilo que as caracteriza como indivíduos, como é que é suposto a sociedade evoluir?
Adiante. Lá arranjei a minha casa.
Na zona onde moro - eixo Marquês-Sta. Catarina-Trindade - posso comprovar in loco aquilo que era anunciado nos classificados. Mega-travacões brasileiros a entrar em pensões reles com tugas pequenitaites que nem pela cintura lhes chegam. Confesso que é algo que me faz sorrir. Não pelo travesti enorme e machão mas pela figura do pseudo-machinho português à procura de um momento bem passado.
No início, eu estava realmente convencida de que esta situação bizarra estava destinada a acabar com a actual geração dos cinquentões, mas todos os dias vejo que não, que a gayzisse mal aceite foi herdada pela geração que veio a seguir à minha, pelos putos de 17 anos cheios de maneirismos parvos que os denunciam mas que se esforçam por segurar a mão da rapariga ao seu lado e até de vez enquando trocar uns beijitos.
E elas, serão estas miúdas assim tão estúpidas que não vêm a pessoa que têm a seu lado? Não se vêm como fag-hags desesperadas? Eu vejo.
Há uns anos longos, conheci um rapaz aqui do Porto na discoteca Trumps, no Príncipe Real. Tal como outros moços da Invicta, ele ia frequentemente a Lisboa onde, na altura, a noite gay era bem mais agitada e interessante que a do Porto. Isso e provavelmente não havia riscos de se cruzar com nenhum conhecido.
Pois esse mesmo rapaz que tão escandalosamente se comportava dentro e fora da discoteca quando "protegido" pelos segurança de um bairro assumidamente gay friendly, que tanto privava comigo e com o meu grupo de amigos, passou meses depois por um de nós e nem sequer disse olá. Estava agora a morar em Lisboa e ia engravatado a caminho do trabalho. Limitou-se a olhar e a baixar a cabeça de imediato.
A pessoa com quem isto se passou ficou um pouco magoada mas aquilo que sentiu acima de tudo foi pena do outro. Deve dar tanto trabalho andar escondido...